
É preciso destruir a teologia da confusão. Confundir a justiça de Deus com vinganças rasteiras de seres "humanos" mesquinhos em seu fundamentalismo alienante é subestimar o caráter de Deus. Confundir o desastre haitiano com "julgamento" divino por causa da religiosidade (leia-se expressão religiosa) é abortar o amor - e com isso - o próprio ser de Deus, pois a Bíblia afirma que "Deus é amor" (I Jo. 4. 8). Con-fundir Deus com a teologia da igreja é o cúmulo da pretensão. É a ignorância institucional.
Nossa teologia não define Deus: define o que pensamos (e queremos desesperadamente que seja verdade) sobre Deus. Uma teologia burocratizada e neurotizante tenta esboçar um Deus "amoroso" apenas enquanto andamos sob suas rédeas. Aliás, rédeas que a própria igreja (sempre a instituição) faz questão de inventar e fornecer. Daí vem nossa monstruosa incapacidade para lidar com quem falha, erra, fracassa, perde, peca, pisa na bola; com os hereges, os oprimidos, os desajustados, os falsos, os impostores. Fica absurdamente difícil colocar no mesmo abraço o Deus da teologia sufocante da igreja com a liberdade intrigante dos homens. O Éden ainda é um passeio distante. É nosso insistente problema com a graça.
Depois do Haiti, Deus não pode mais ser teologizado na masmorra da verborragia. Ou Deus é encarnado nas fúrias da vida, ou não é Deus (pelo menos, não é o bíblico). Não podemos mais nos satisfazer em pregar sermões belíssimos de uma oratória sem desdobramentos práticos, nos púlpitos confortáveis de nossas catedrais. É preciso sujar os pés nos escombros da história. Já não se trata de teologia, mas de pedagogia! É aprender de Deus, com os filhos de Deus, no mundo de Deus.
É preciso olhar por uma outra teologia: talvez uma ecoteologia. É a luta pela preservação do meio ambiente (luta que o "mundo" já faz). É a prevenção das tragédias. A minimização do que, às vezes, é inevitável. É enxergar Deus não apenas evitando o inevitável, em suas demonstrações abusivas de poder, mas ajudando-nos no esforço humano das re-construções, demonstrando seu amor. Ecoteologia é o não-desperdício da água e dos outros recursos naturais. É a denúncia furiosa do consumismo e do materialismo. A denúncia da corrupção. Da maldição do plástico nos rios e mares.
Que fique sob os escombros do Haiti todas as (des)construções teológicas de um Deus tirano, cruel, vingativo, mesquinho e burocrata. Que fique sob os escombros do Haiti toda a hipocrisia dos que se dizem cristãos mas não querem ter o coração do Cristo. Que fique no passado aquela teologia maldosa (via Pat Robertson) que descaracteriza o rosto belo de Deus, aquele que Zilda Arns mostrou tão bem.
O futuro é agora.
Até mais...
Alan Brizotti
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