15.8.10

Cristianismo de marionetes: Bonecos sem vida nas mãos de uma liderança corrupta!


Por Leonardo Gonçalves

Estamos vivendo na época dos crentes marionetes. Em um país onde apenas uma parcela ínfima da sociedade adquiriu o gosto pela leitura, era de se esperar que uma religião que demanda fidelidade a um livro – ainda que seja um livro sagrado – encontraria problemas para se desenvolver de forma saudável. É claro que eu conheço as estatísticas recentes que mostram o crescimento vertiginoso dos evangélicos, mas essas pesquisas também nos revelam que a maior parte desse crescimento se dá na ala neopentecostal, em meio a igrejas que exploram ao máximo a fé mística, ubandista, idólatra e xamânica do povo brasileiro – sincretizando essas religiões e condensando-as em uma forma de culto muito diferente do culto racional de Romanos 12, e que por pura teimosia insiste em serem chamadas “igrejas evangélicas”. É claro que essas crenças não passam pelo crivo bíblico, de modo que para sustentá-las não basta apenas distorcionar as palavras da Bíblia: é preciso literalmente abandoná-la para levar à cabo essa religião idólatra, utilitarista e manipuladora.

Devido à multiplicação dos chamados “movimentos contraditórios” (um eufemismo para seitas), a Bíblia tem sido conservada apenas como acessório, um adorno para o púlpito, mas a bem da verdade, uma peça sem serventia. Cada vez menos se recorre a ela para basear opiniões, de forma que até o conhecido bispo-empresário chegou ao ponto de lançar uma campanha televisiva em favor do aborto, causando gande confusão no meio evangélico. Se por um lado o telebispo foi mais longe que todos os demais, por outro lado precisamos reconhecer que ele não está só: ele fez escola. Muitos telepastores e telepregadores tem seguido os seus passos. Essa semana estava lendo acerca de um telepastor (aquele que faz chapinha, sabe?) que formou uma caravana e se dirigiu para Israel, a fim de queimar os pedidos de oração que os “fãs” enviam para o seu programa. Outro pregador, que já foi um verdadeiro militante apologista, e que batia de frente com os modismos, heresias e falácias neopentecostais, mudou de trincheira e agora defende com unhas e dentes a teologia da prosperidade, preferindo a mensagem de “Vitória em Cristo” do que aquela da “Salvação por Cristo”.

Quero deixar claro que jamais afirmei ser o dono absoluto da verdade, antes anuncio que a Bíblia é verdadeira e me oponho veementemente a esse cristianismo analfabeto. Ora, o cristianismo sem Bíblia é como um casamento sem conjuge! É nela que encontramos a ética do reino, as promessas de Deus e suas demandas, as palavras inspiradoras de Cristo nos evangelhos, a doutrina cristã sistematizada por Paulo e a mensagem apologética de Pedro e Judas. Ela é o maior documento que o cristianismo possui. Ignorar a Bíblia é ignorar os atos de Deus na história da salvação, e conseqüentemente a nossa própria história. Mas infelizmente o que vejo hoje é um cristianismo sem Bíblia, sem Cristo, sem dogma e sem mensagem salvadora. Um cristianismo consumista, capitalista, utilitário, espíritista, relativista e pragmático. Os seguidores desse cristianismo caricato são marionetes nas mãos dos lobos devoradores, sendo constantemente manipulados para o benefício dos líderes que enchem os bolsos com o dinheiro dos “fiéis”, comprando aviões de 30 milhões de dólares, construindo mansões em Campos do Jordão, ou investindo em cavalos árabes “puro sangue”. Enquanto isso, os crentes se prestam aos mais absurdos papéis: banhando-se com sabonete de arruda, participando de sessões de descarrego, fazendo despachos, comprando produtos “made in Israel” e movimentando esse marcado milionário que é a industria da iconolatria evangélica.

É assim que cresce a igreja evangélica brasileira: enferma. Ela é uma igreja obesa, com o colesterol alto e diabetes. É uma comunidade doente, mas não é a única culpada da sua saúde precária. Falharam os seus pastores em administrar-lhe uma dieta saudável, e ainda falham ao dar-lhe veneno em lugar de remédio. É verdade que a igreja evangélica está crescendo, porém esse não é um crescimento saudável.

Quando era criança, me apaixonei por marionetes. Lembro-me que no jardim de infância meus olhos brilhavam durante as apresentações do grupos de títeres. Porém, o tempo foi passando e um dia eu descobri que a voz que eu ouvia não era a voz do boneco: havia alguém escondido atrás da cortina movendo os pobres personagens sem vida. Desse dia em diante, perdi totalmente o interesse por marionetes. Os membros dessas novas igrejas são meros títeres, massa de manobra na mão dos perversos, dominadores e exploradores da fé alheia. São os lobos vorazes que manipulam os bonecos inertes a fim de satisfazer suas necessidades e seus sórdidos interesses. Nossos membros são marionetes: a voz que ouço em suas defesas “apologéticas”, definitivamente não é deles. Já ouvi essa voz antes e aprendi a reconhecer o som por detrás do boneco de madeira. Eles não podem me enganar, pois aprendi cedo, aos 5 anos de idade, a discernir a voz que comanda o sistema.



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Este texto foi um dos primeiros publicados na tribuna virtual chamada Púlpito Cristão, em Outubro de 2008

13.8.10

Pastores de si mesmos


Por André Santos

Infelizmente estamos mergulhados em uma crise de vocação ministerial sem fim. Ser pastor em uma sociedade como a nossa, não é uma tarefa fácil, bem da verdade que se tornou uma árdua tarefa. A nossa geração precisa ter consciência que os desafios que nos são propostos são particulares a nossa geração. Como disse o pastor Luiz Duarte: “Cada geração é responsável pela sua geração”.

Vivemos em dias desafiadores, dias de alta tecnologia, da velocidade de informações, da busca de soluções imediatas, dias onde “nada” é absoluto, mas tudo tem sido levado ao crivo do relativismo. Uma das coisas mais difíceis que há em nossos dias, é encontrar uma igreja autentica, sem o verniz da aparência por cima de um arcabouço cavo, oco. Os pastores sentem-se sem ânimos, vencidos pela modernidade das igrejas tecnológicas, pastores que outrora eram referencias para sua geração, são postos de canto em detrimento das inovações juvenis, alguns até irresponsáveis. Os dias em que vivemos são reflexos do século XXI, um século permeado de desafios.

No meio desses desafios surgem outros, como por exemplo, o de continuar sendo pastor, em uma sociedade que não tem como característica a busca pelo divino, em uma sociedade que é caracterizada pela busca da espiritualidade fora de Deus. A banalização e secularização do sagrado fazem com que as pessoas não valorizem o ministério como algo que acontece por vocação e sim por ambição. Ser pastor, não traz mais cunho de vocação, mas de uma oportunidade para sucesso e fama no meio “gospel”.

A maior desilusão é quando encontramos pastores que abdicaram da verdadeira vocação para com o rebanho de Deus, e passaram a apascentarem a si mesmos. Sim, pastores que fazem das igrejas extensão de si mesmos, onde o apascentar o rebanho de Deus, tornou-se secundário. Isso não é novo, na verdade é uma problemática antiga que contribuiu para o desmoronamento do sistema religioso de Israel, a voz de Deus pôde ser ouvida através do profeta Ezequiel no cativeiro Babilônico que disse: “Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza e dize-lhes: Assim diz o SENHOR Deus: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não apascentarão os pastores as ovelhas?” (Ez 34.2).

Nos tempos onde as crises alçavam altos picos, em um ambiente fértil que germinava nas pessoas a busca pelos seus próprios interesses, o profeta denúncia esse mesmo sentimento no coração dos pastores que haviam abandonado o rebanho e estavam apascentando a si mesmos.

Características dos pastores de si mesmos

O assunto não pode ser tratado de forma simplista, mesmo porque existem muitos pontos a serem considerados, porém, quero destacar aqui pelo menos quatro características que identificam pastores que inclinam-se a apascentar-se a si mesmos.

1. Se preocupam apenas com si mesmos. Existe uma linha muito tênue entre “cuida-te de ti mesmo” e apascentar a si mesmo. Porque a necessidade do cuidado pessoal para a vida é obrigação do obreiro, existem várias exortações bíblicas que nos apontam para esse cuidado, Paulo disse a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina...” (I Tm 4.16), porém, não podemos fazer uma coisa como desculpa para abandonar outra. Há pastores que se preocupam em engodarem-se as custas do rebanho, sem critério algum, causando estragos sem precedentes. É um fato muito triste ver como alguns rebanhos são subjugados e extorquidos, em lugares onde se mercadejam as bênçãos de Deus.

Ultimamente temos visto grandes exemplos através dos pastores midiáticos que tem explorado o rebanho de Cristo sem o mínimo de misericórdia, alimentando seus egos e seus projetos “megalomaníacos”.

2. Abandonam o rebanho. Uma das coisas mais tristes que há é ver como os rebanhos estão abandonados, perdidos e desorientados. Rebanhos sem pastores, rebanhos que são levados de um lado para o outro por ventos de doutrina, buscando algo que possa saciar sua alma, pois os pastores estão demasiadamente ocupados e não podem atendê-los. Jesus lamentou sobre a condição do rebanho de Israel que tinha uma religião bem resolvida e que gozava de certo status junto ao império, quando disse: “Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9.36).

Muitas pessoas literalmente abandonadas e aflitas. Muitas vezes, porque a ocupação que parece ser demasiada, nada mais é do que necessidade de parecer importante. Eugene Peterson diz o seguinte:

“Que maneira melhor do que ser ocupado? As horas incríveis, os horários cheios,
e as pesadas demandas no meu tempo provam para mim mesmo – e para todos que
observarem que sou importante”.2

O trabalho pastoral vai muito além dos cultos de domingos, as necessidades são alarmantes, urgentes e imediatas.

3. Usam o rebanho como meio para fins. O rebanho de Cristo é o fim em si mesmo, porque foi por pessoas de todas as tribos, raças e nações que Jesus morreu na cruz e não por projetos que aparentemente viabilizam o alcance de “almas”. Precisamos analisar com temor e tremor as palavras do apóstolo Pedro: “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição [...]também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme” (II Pe 2.1,3). Infelizmente muitos pastores vêem o rebanho como clientes e não como ovelhas, pessoas que buscam O Caminho, e simplesmente, dissimulam a verdade. Uma ocasião um seminarista me perguntou qual era a diferença da administração de uma empresa para administração de uma igreja, e eu respondi com poucas palavras: - “Administrar uma empresa é ver as pessoas como um meio para se chegar a um fim, que é o lucro. E, administrar uma igreja é enxergar as pessoas como o fim em si mesmo”. Porque foi por nós que Jesus morreu. Por isso, devemos usar todas estruturas envolvidas para que vidas sejam alcançadas e trazidas aos pés do Bispo das nossas almas, Jesus.

4. Vivem do rebanho, mas não cuidam do rebanho. Muitos ainda esbarram em uma pergunta antiga: O pastor deve ser remunerado? Acredito que a Bíblia tenha respostas claras para essa questão e reforçando a idéia que sim (I Co 9; II Tm 2.6,7). Mas o fato é que, se vivem assalariados pela obra, devem viver para a obra. E que obra é essa? Cuidar verdadeiramente do rebanho. O Profeta Ezequiel novamente aparece no cenário com a exortação: “Comeis a gordura, vestis-vos da lã e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas” ( Ez 34.3).

Infelizmente há pastores que evocam para si direitos especiais, mas que por outro lado não cumprem com o dever, o de apascentar o rebanho de Deus.

Desenvolvendo a vocação com autenticidade

Em tempos assim, é difícil de se identificar qual o modelo de pastor a seguir. Falta-nos referenciais e exemplos a serem seguidos. Pois, hoje, é preciso uma renovação de entendimento para que venhamos a sair da masmorra secularizada em que está mergulhada a nossa geração. Como superar esse momento e reformular em algum nível, alguns modelos pastorais existentes em nossos dias? Como pregando a outros, nós mesmos não venhamos ser reprovados no exercício pastoral?

Em primeiro lugar, é necessário ter em mente que o rebanho é de Cristo. Há uma certa tendência dos pastores sentirem-se donos dos rebanhos, e querer usufruir desse direito para fazer o que bem entender. O escritor Colin S. Smith diz o seguinte:

“...O uso do nome de Deus por líderes espirituais com o intuito de confirmar as
próprias idéias é pura exploração e torna-se uma forma de chantagem espiritual.
É uma ofensa contra Deus e um pecado que ele não considera superficial” .

Essa é uma tendência que escamoteia o rebanho e leva apodera-se do mesmo. Porém, quando lembramos a nós mesmos que o rebanho é de Cristo, a noção muda, o ministério e a vocação tomam outro significado. O apóstolo Pedro diz: “pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho” (I Pe 5.2,3). O rebanho foi confiado pelo próprio Jesus Cristo, e jamais podemos querer apropriar-nos dele. Cristo é o Bom pastor que dá a vida pelas suas ovelhas. Nós podemos construir a infra-estrutura, mas as pessoas, continuam sendo do “...Bispo e Pastor das vossas almas” ( I Pe 2.25).

Em segundo lugar, é preciso desenvolver a chamada por vocação. Poucos pastores têm a certeza da vocação. Muitos foram lançados na arena e deixados ao leu, sem estrutura ou convicção da própria chamada. Outros são abandonados à própria sorte, tendo que lutar, muitas vezes sozinho com dificuldades existenciais esmagadoras. Infelizmente tem crescido o número de pastores que cometem suicídio e que tem desistido de tudo, do chamado e até mesmo da vida. O apóstolo Paulo sabia que para pregar o Evangelho de Cristo e pastorear o rebanho de Deus, tinha que ser vocacionado, e por isso, afirmou dizendo: “Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (At 20.24).

O apóstolo Pedro parou de hesitar em seguir a Jesus e entender qual era sua vocação, não apenas depois do Pentecostes, mas depois que Jesus mirou os seus olhos, e lhe pediu a maior prova de amor que ele poderia demonstrar que era: “apascentando o seu rebanho” (Jo 21.15-17). Um chamado à vocação.

A vocação para o ministério não envolve fracasso profissional em dimensões seculares, projeção publica através do ministério e do rebanho. Não! Mas sim, uma vida de entrega a Jesus, tendo plena convicção que o seu chamado não foi dado pelos homens e sim pelo próprio Jesus, que deu uns também para pastores “...tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos” (Ef 4.12). Tenha consciência que os profetas, apóstolos, bispos, presbíteros e pastores que a Bíblia Sagrada menciona, superaram os mais diversos obstáculos, porque eles sabiam em quem estavam crendo. Para eles, viver era atender a vocação que Deus os confiou, de maneira que de alguns deles, o escritor aos Hebreus confirma: “homens dos quais o mundo não era digno...” (Hb 11.38).

Em terceiro lugar, deve considerar que um dia será chamado à prestação de contas. Nenhum pastor pode ignorar essa verdade, seremos chamados à prestação de contas do rebanho que nos foi confiado. O escritor aos Hebreus diz: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros”. (Hb 13.17). Já vi muitos pastores fazendo menção desse versículo apenas para exigir submissão e obediência, porém, esquecendo-se que, não passa desapercebido o texto que diz: “...como quem deve prestar contas...”. Essa é uma responsabilidade unânime no ministério pastoral, e que deve ser encarada com zelo e com amor. Foi com essa consciência que o apóstolo Paulo afirmou para os Tessalonicenses que tinha agido como uma mãe e como um pai com a igreja (I Ts 2.7,11).

Por último, é preciso dessecularizar o ministério pastoral. Todos nós sabemos que o ministério pastoral é um oficio espiritual, mas nesse mundo secularizado de hoje, onde muitas pessoas não conseguem enxergar além de uma visão materialista e ultrajante em todas as dimensões, precisamos lembrar que o mesmo Jesus que nos chamou para apascentar, nos chamou para o fazer por uma dádiva espiritual e não secularizada. Todos os instrumentos que utilizamos para o progresso do Evangelho são de grande importância, mas nada pode substituir a cruz de Cristo, de onde vem toda fonte de amor, dedicação sacrificial, entrega e devoção à chamada para apascentar. Precisamos de pastores que realmente conheçam o coração de Deus, como diz a Bíblia Sagrada: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência” (Jr 3.15).

Pastores estereotipados de "executivos" e de “super ungidos” são desnecessários para o rebanho. Um pastor precisa ser gente como seu rebanho, no mesmo arquétipo do próprio Cristo, vivendo como nós, passando a ser um de nós, sem negar a sua essência humana. Já ouvi de pastores que não se misturam com seus rebanhos para não parecer um deles. Isso é um fracasso no ministério pastoral, porque nenhuma liderança que é imposta por ostentação, por falsa impressão será valorizada. Podem até lhe aplaudir, mas no fundo saberão, que não passa de elucubrações humanas.

Que a chamada pastoral seja mais valorizada e que possamos nos aventurar em caminhar nos dedicando à fundo na chamada e na vocação que o Senhor nos tem confiado, atendendo a vocação de apascentar o rebanho de Deus e alcançando respeito diante dos homens como afirmou o apóstolo Paulo: “Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus” (I Co 4.1).

Paz seja convosco!

Fonte & autor: André Santos
Via: Emeurgência

2.8.10

Porque os reis andam nus


Rubinho Pirola


Como na parábola que nos contavam quando crianças, os reis continuam nus.


Reis, como os que estão investidos de autoridade, ou da presunção de, com seguidores e subalternos.
É difícil para quem está por cima, ouvir com ouvidos de se ouvir, os que estão em outro patamar, mesmo que seja só no juízo desse superior. Vale a ideia do"quanto mais alto, mais distante para se ouvir".
Há o pressuposto no coração do "superior", a premissa que é inatingível, que é infalível ou, se o é, não é tão fácil assim de isso vir a acontecer, a não ser por uma hipotética e distante possibilidade, imaginam eles.
Eu me tenho cansado de tentar corrigir, ou argumentar ou sequer, chamar a atenção de alguns, mesmo que muito amados. Deve ser isso, precisamente o que se passa no coração de Deus, ao lidar com esses.
Há um tempo atrás, querendo eu escrever a um amado pastor e chamar a sua atenção - com muito cuidado para não me arvorar em alguém maior, mas com a sinceridade de quem ama e vê o amigo naufragar, fui alertado por outro, a quem compartilhei o peso de tão grande tarefa. que não devia fazê-lo. "Nem tente sequer, Rubinho. Ele anda tão alto em si mesmo, que ainda há de zangar-se com você e nem vai chegar ao meio do escrito, quanto mais refletir sobre isso. Simplesmente ore por ele", disse-me.
E assim fiz.
O rei, nú, bebe da verdade que "nada é pior que o sucesso, pra além da aparência dele". Por terem esses, o bilau pequeno, sei lá..., recusam-se a enxergar a verdade (Freud explica...)
Ao portarem assim, crêem cuidar da reputação - o que deles se pode enxergar - descuidando daquilo que os anjos, e os céus dizem a seu respeito.
Achamos que temos, que somos, que estamos (e não nos falta sempre aqueles para nos lembrar disso) e os nossos ouvidos fecham-se em si mesmos. E todos continuam a assistir o, cada dia mais, patético desfile de alguém vestido por uma roupa tecida de vaidade, narcisismo ou de bajulação e endeusamento, feito por costureiros da idolatria.
Se esse lacre está na baixa qualidade (intelectual, cultural, até bíblica) dos subalternos, qualquer argumento, por mais idiota e falso que seja, vale.
Se ele está na qualidade - muito superior - de raciocínio e verborragia - do rei, vende-se até, como dizemos em Minas, "rancho-pegando-fogo". O problema é que, depois de um tempo de discussão - quase sempre acalorada - mesmo que todos acabam por concordar com o rei, nu ainda, o que resta é um amargo gosto de manipulação e de terem sido usados, ainda que todos tenham acabado por concordar pelo esgotar dos argumentos.
Os reis continuam nus. A mídia, o poder público, os políticos, os doutores de toda espécie, os pais, maridos, esposas, filhos rebeldes, os pastores (os apóstolos, ai,... os apóstolos...) e até os amigos, empoleirados no alto dos seus orgulhos-feitos-roupa-sob-medida.
Mas há um preço terrível por andar-se nu, para além da própria vergonha. Há a visão implacável do Justo Juiz, diante da qual, homem algum consegue esconder-se.
Em Romanos no capítulo 1, Paulo discorre com veemência contra os reis. Contra aqueles que teimam em andar desnudos. Deus os entrega às suas insistentes vontades de andarem assim.
E o preço está lá: a própria destruição.
E destes, o Onipresente Deus passa longe.
Peço a Deus que nunca me faltem os amigos. Os sinceros e corajosos. E que ainda nem precisem de tanta força assim para dizer o que tenho de ouvir.
Mas que não me falte também, o mesmo coração de Davi, um rei que, nu, ao ouvir de um subalterno a correção (ainda que à custa de uma parábola sobre um vizinho assassino e ladrão), não hesitou em dizer (e assumir): "este, sou eu".
E foi chamado pelo alto de "Homem segundo o coração de Deus"!
"Perto está o SENHOR dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito." Salmos 34:18

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